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No Basquete o Bronze Brilhou como Ouro

By 30 de setembro de 2015 No Comments

Por José Rezende

A delegação brasileira masculina de basquetebol embarcou desacreditada para Londres, em 1948. O comando técnico era de Moacir Daiuto. Segundo o ex-jogador Mário Hermes, a ausência do pivô Guilherme, do Botafogo, na lista dos convocados, revoltou Togo Renan Soares, o popular Kanela, que se tornou o maior técnico da história do basquete brasileiro:

“Kanela me contou que foi tomar satisfação na Confederação, porque o Guilherme não estava convocado. A desculpa foi que os dentes do Guilherme estavam ruins. Só não digo que o Kanela conhecia Deus e todo mundo, porque não sei se ele conhecia Deus.

Pegou o Guilherme e levou ao melhor dentista do Rio. Chegou às 7 horas da manhã e saiu às 4 da tarde. Kanela voltou à Confederação e lá chegando falou que o Guilherme, agora, terá que ser convocado. Veio outra desculpa: ele não iria porque era indisciplinado. Aí, o Kanela deu um soco no presidente da Confederação.

Kanela não era o técnico da seleção. Não aceitavam o Kanela como técnico, embora a minha opinião já fosse o melhor. Kanela não era uma pessoa bem quista. Ele criava muito caso”.

As adversidades enfrentadas pela seleção não desanimaram os jogadores brasileiros que realizaram uma campanha vitoriosa. Ruy de Freitas era um dos principais integrantes da nossa equipe:

“Foi um exemplo de como o esporte em geral, no Brasil, não é bem tratado. Tivemos que levar goiabada e outros alimentos. Não tínhamos médico, massagista. Era um médico para toda a delegação, que só queria saber das meninas da natação.

Num jogo em que o Alfredo se machucou, ele apareceu e, quando foi atender o Alfredo, o Reis Carneiro, presidente da CBB, disse: “Tira a mão daí. Não mexe no meu jogador. Não venha agora para cá”.

Nós podíamos levar 12 jogadores e levamos só 10. Tivemos a contusão do Évora, um companheiro amarelou, não digo o nome, e o Daiuto, que era o técnico, não tinha confiança em três jogadores.

Quando chegou a partida contra a Inglaterra, que era a seleção mais fraca, alguém da chefia da delegação disse que era importante o saldo de cestas. Corremos muito e fizemos 76 pontos. No jogo seguinte, cansados, sem massagista, sem médico, não ganhamos. Para ganharmos depois do México foi um custo.

A medalha de bronze valeu como se fosse de ouro. Mas, quando eu entrei em Wembley, no desfile inaugural, vendo todo aquele cenário, eu disse para mim mesmo: não preciso ganhar, já estou satisfeito”.

O Brasil obteve os seguintes resultados:

Primeira fase

  • Brasil 45 x 41 Hungria
  • Brasil 36 x 32 Uruguai
  • Brasil 76 x 11 Inglaterra
  • Brasil 57 x 35 Canadá
  • Brasil 47 x 31 Itália
  • Brasil 28 x 23 Tchecoslováquia
  • Brasil 33 x 43 França

 

Disputa do terceiro lugar – medalha de bronze

  • Brasil 52 x 47 México

 

Já no atletismo, no box e na natação quase chegamos ao pódio. Geraldo de Oliveira, no representante no salto triplo, conseguiu um honroso 5º lugar; Ralph Zumbano, tio do futuro campeão mundial Eder Jofre, chegou às quartas de final; e na natação, os melhores resultados foram obtidos por Piedade Coutinho nos 400 metros livres e pela equipe do revezamento dos 400 metros nado livre, ficou em sexto lugar.

 

  • Equipe brasileira que conquistou a medalha de bronze em Londres: em pé, Pacheco, Alfredo, Algodão, Massinet, Alexandre e o técnico Moacir Daiuto; agachados, Marson, Vinicius, Ruy de Freitas, Évora e Braz.

F 01 - 1948 - time medalha de bronze em Londres

 

  • Algodão, Vinicius, com a bola, e Ruy no jogo Brasil x México. A vitória deu ao Brasil a medalha de ouro.

F 02 - 1948 -lance Brasil x México

 

  • Ralph Zumbano, um dos importantes nomes na história do box brasileiro.

F 03 - Zumbano